“A Rosa Desfolhada”
Ao ver-Vos, meu Jesus, deixar da mãe os braços,
E com o terno auxílio
Tentear vacilando uns mal seguros passos
Em nosso pobre auxílio.
Quisera, desfolhar, Amor, pelo caminho
A mais purpúrea rosa
Porque esse pé gentil poisasse de mansinho
Sobre uma flor mimosa.
Assim desfolhadinha a rosa é imagem bela,
Ó meu divino Infante,
Dum pobre coração que vitimar-se anela
Por Vós a cada instante.
Mais uma rosa cresce em vosso alter risonha
De Vós servir contente.
Feliz! que a Vós se deu; porém minha alma sonha
Em se esfolhar somente.
A rosa em seu fulgor tem culto e luzimento;
Às festas dá seu brilho.
A rosa desfolhada, esse levou-a o vento;
Ninguém lhe soube o trilho…
A rosa em se esfolhar, p’ra sempre renuncia
À vida, a quanto amava.
Com ela, a Vós, meu Deus, em venturoso dia
Se entrega a humilde escrava.
Bem sei que sem reparo o viandante pisa
Da rosa o vão despojo;
Enfeite descuidado em que retoiça a brisa,
Envolto em pó, de rojo…
Jesus, sacrifiquei por vosso amor, gozosa,
O meu futuro, a vida,
Aos olhos dos mortais deve esconder-se a rosa
P’ra sempre emurchecida.
Hei-de morrer por Vós! De gozo em si não cabe
Minha alma ardendo em chama.
Então, Jesus, vereis se quanto pode e sabe
Meu coração Vos ama.
E assim quero viver a vossos pés sem brilho
Presa em divinos laços.
Pudesse eu abrandar no doloroso trilho
Vossos últimos passos.
(Maio de 1997)
(in “História de Uma Alma – Manuscritos Autobiográficos – Santa Teresa do Menino Jesus”)
domingo, 5 de novembro de 2006
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