domingo, 5 de novembro de 2006

“A Rosa Desfolhada”

“A Rosa Desfolhada”

Ao ver-Vos, meu Jesus, deixar da mãe os braços,
E com o terno auxílio
Tentear vacilando uns mal seguros passos
Em nosso pobre auxílio.

Quisera, desfolhar, Amor, pelo caminho
A mais purpúrea rosa
Porque esse pé gentil poisasse de mansinho
Sobre uma flor mimosa.

Assim desfolhadinha a rosa é imagem bela,
Ó meu divino Infante,
Dum pobre coração que vitimar-se anela
Por Vós a cada instante.

Mais uma rosa cresce em vosso alter risonha
De Vós servir contente.
Feliz! que a Vós se deu; porém minha alma sonha
Em se esfolhar somente.

A rosa em seu fulgor tem culto e luzimento;
Às festas dá seu brilho.
A rosa desfolhada, esse levou-a o vento;
Ninguém lhe soube o trilho…

A rosa em se esfolhar, p’ra sempre renuncia
À vida, a quanto amava.
Com ela, a Vós, meu Deus, em venturoso dia
Se entrega a humilde escrava.

Bem sei que sem reparo o viandante pisa
Da rosa o vão despojo;
Enfeite descuidado em que retoiça a brisa,
Envolto em pó, de rojo…

Jesus, sacrifiquei por vosso amor, gozosa,
O meu futuro, a vida,
Aos olhos dos mortais deve esconder-se a rosa
P’ra sempre emurchecida.

Hei-de morrer por Vós! De gozo em si não cabe
Minha alma ardendo em chama.
Então, Jesus, vereis se quanto pode e sabe
Meu coração Vos ama.

E assim quero viver a vossos pés sem brilho
Presa em divinos laços.
Pudesse eu abrandar no doloroso trilho
Vossos últimos passos.

(Maio de 1997)
(in “História de Uma Alma – Manuscritos Autobiográficos – Santa Teresa do Menino Jesus”)